Eu sempre fui um jornalista de games e mesmo hoje, não atuando na área, sinto que não consigo deixar a minha vontade de escrever e pensar sobre o mercado de video games. Hoje eu vou tentar passar minha visão sobre a crise da área e já faço um convite para você discutir comigo alguns dos pontos que estão martelando na minha cabeça há algum tempo.
Os portais de games, que historicamente serviram como referência para a comunidade, enfrentaram um ano turbulento em 2024. Muitos trocaram críticos experientes por jovens profissionais, reduziram estruturas ou até encerraram suas atividades. Essa crise reflete um mercado instável, impactado por cortes e reestruturações.
Veículos como Tecmundo, GameArena, IGN Brasil e ESPN Esports são apenas alguns dos exemplos de veículos que sofreram com demissões, mudanças editoriais e até encerramento de atividades. Essa transformação tem raízes em diversos fatores, como:
- Dificuldade de vender publicidade para grandes portais e atingir metas de campanha;
- Custos elevados de manter uma equipe sênior;
- Baixo engajamento do público com banners de publicidade;
- Cabeça dura dos jornalistas, que teimam em torcer o nariz para os publieditoriais;
- A preferência crescente por influenciadores, que oferecem custos menores e maior alcance.
Além disso, o consumo de conteúdo mudou radicalmente. O público agora busca opiniões rápidas e dinâmicas, geralmente em vídeo, em vez de análises extensas em texto.
Um textão como o meu aqui, dificilmente teria espaço em um portal, afinal, quem tem 10 minutos para ler em um mundo sedento por conteúdo curto? Mas não é só isso: pessoas se relacionam melhor com outras pessoas.
Sem falar do grande impacto que a imprensa, de forma geral, vem sendo retratada por políticos e influenciadores. Ou você acha que é só o jornalismo político que passa por uma campanha massiva por difamação?
Influenciadores: Os Novos Curadores
Os influenciadores se tornaram a principal referência para muitos jogadores, especialmente devido à sua proximidade com o público e ao formato mais acessível de conteúdo. Contudo, essa popularidade vem acompanhada de desafios éticos.
Ao contrário dos portais, influenciadores muitas vezes são dependentes do departamento de marketing das publishers. Uma crítica negativa pode significar a exclusão de futuras campanhas. Pior ainda, vídeos mais contundentes podem ser vetados antes mesmo de serem publicados.
Um caso recente ilustra bem essa dinâmica: a HoYoverse, produtora de Genshin Impact, derruba diariamente vídeos de criadores que vazam detalhes de personagens.
Em 2024, um influenciador com 300 mil inscritos teve todo o conteúdo de Genshin Impact derrubado. Para salvar seu canal, ele precisou apagar os vídeos sobre o jogo e mudar de foco.
O Desafio dos Portais e a Mudança de Consumo
A crise dos portais de games é agravada por mudanças no comportamento do público e nas plataformas. Hoje em dia, descobrir um novo site ou blog de videogames não é nada fácil.
Antigamente tínhamos ferramentas como construção de temas e trabalho em palavras-chave para tentar rankear melhor na busca do Google. Mas hoje, só conseguimos encontrar conteúdos depois de muito tempo scrollando para sair dos links patrocinados.
Você precisa agradecer aos deuses do algoritmo para uma matéria chegar ao Google News ou Discovery. Ou partir para as plataformas de vídeo e rezar para os mesmos deuses.
O algoritmo do YouTube, por exemplo, prioriza conteúdos de nicho, o que dificulta a vida de criadores generalistas.
Um exemplo disso é o BRKsEDU, que mencionou recentemente os riscos de investir em séries de gameplay com baixa retenção. Ele cancelou uma série de vídeos sobre Death Stranding justamente para proteger o desempenho de seu canal – esse não foi o único motivo, foi um dentre vários outros fatores que colaboraram para o cancelamento da série, mas um motivo bastante forte.
Essas mudanças não afetam apenas influenciadores, mas também refletem uma transformação no próprio jornalismo de games. Apesar de seu papel essencial em trazer contexto, análises profundas e investigações, os portais enfrentam dificuldades para competir com criadores mais ágeis e flexíveis.
A indústria da informação sobre videogames está em um momento de transição. Os portais enfrentam o desafio de se reinventar em um cenário onde o público prefere opiniões rápidas e criadores de conteúdo dominam as conversas.
Apesar disso, o jornalismo de games continua sendo indispensável para expor contradições, investigar bastidores e oferecer análises aprofundadas. A questão é: como se adaptar a uma audiência que mudou tão radicalmente seus hábitos de consumo?
Eu penso que existe um mundo onde os jornalistas, principalmente os mais antigos, precisam mudar de foco e criar um nicho para eles mesmos. Pode ser como eu, que estou começando com esse blog – e em breve, meu próprio canal.
Olhando para a tendência que começou lá em 2010, eu vejo que demorei para começar a pensar em mim mesmo. E vejo que também demorou para os grandes portais se reinventarem.
Agora estamos nessa corrida maluca contra o tempo para continuarmos a sermos relevantes. Será que vamos conseguir nos reinventar? Eu acho bem difícil.
Eu tenho mais alguns pontos, mas reforço o pedido para que você, venha discutir comigo. Quem sabe eu fico menos pessimista com o futuro da minha profissão…
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